SPTrans determina inclusão de ônibus sem o posto de cobrador a partir de setembro

No final da noite de ontem, começou a circular pelas redes sociais a foto de um documento da SPTrans. Esse documento, uma suposta Circular interna, emitida em 11 de junho, informava que “A partir de 02/09/2019 os veículos dos tipos Padron e Básico a serem incluídos na operação do Sistema de Transporte Urbano de Passageiros deverão ter “lay out” interno projetado sem o posto de cobrador (banco e caixa de cobrança).” A retirada do posto, como era de se esperar, suscitou a dúvida: e o cobrador?

Foto da circular da SPTrans que foi repassada pelas redes sociais

A tarde, devido à repercussão da circular, a Secretaria de Comunicação da SPTrans divulgou a seguinte nota:

“A SPTrans esclarece que não há nenhum plano de demissão dos profissionais que exercem a função de cobrador. Com o avanço da tecnologia e cobrança automática das tarifas no transporte coletivo, esses profissionais já passam por programas de reciclagem nas empresas e são reaproveitados pelo sistema em outras atividades como: fiscalização, manutenção, administração entre outras.

A reciclagem dos cobradores ocorre de maneira natural nas empresas já que atualmente, em todo sistema, apenas 5% dos passageiros fazem o pagamento da tarifa em dinheiro.

Vale destacar que a carta Circular DO 005/2019 enviada para as empresas de ônibus se refere ao layout interno dos futuros ônibus padron, que passarem a ser adquiridos pelas empresas. Desde 2014, os veículos do Subsistema Local, cerca de 6 mil carros, já circulam sem cobrador.”

Histórico – Tentativas de retirar os cobradores definitivamente dos ônibus da capital não é uma novidade. Uma das primeiras tentativas foi adotada o primeiro formato de bilhetagem eletrônica, através dos Bilhetes Edmolson, no final dos anos 90. No entanto, devido a alta evasão, as empresas a recontrataram os cobradores.

Atualmente, as empresas do sistema local (antigas cooperativas) operam quase que todas as suas linhas com ônibus básicos, midi e micro-ônibus sem a presença do cobrador. No entanto, o motorista acumula a função deste, cobrando a tarifa e liberando a catraca através de um comando no painel. Mas essa alternativa é polêmica pois muitos motoristas dão o troco com o veículo em movimento, para não perder o tempo de viagem. Além disso, dependendo da linha, o motorista pode ficar alguns minutos parado recebendo a passagem dos passageiros que estão subindo, ocasionando atrasos e lentidão na operação. Isso, é claro, sem falar no embarque e desembarque de pessoas com necessidades especiais e idosos.

Em 2017, SPTrans testou na linha 576C/10 Terminal Santo Amaro-Metrô Jabaquara a ausência do profissional e da função do cobrador no veículo. Ou seja, não havia o cobrador e o motorista não recebia tarifa – e se o passageiro não tivesse o BU carregado, não seguia viagem.

Durante esse período de testes, a Prefeitura não divulgou alternativas para o usuário que não possuía o Bilhete Único, que não possuía saldo neste ou que só tenha dinheiro em mãos no momento. A “solução” foi alternar ônibus sem cobrador com ônibus com cobrador: se o passageiro só tivesse dinheiro, a “solução” era esperar o próximo. Isso durou alguns meses e a experiência acabou sem a divulgação dos resultados.

Diminuição do desconto nas tarifas integradas e temporais… Corte de linhas, por conta da licitação… Corte de número de embarques do bilhete único vale transporte… Aumento do valor para a aquisição do vale transporte pelo empregador… E, agora, corte do posto de cobrador… Tudo isso ajuda a diminuir o valor da despesa do sistema e, por consequência, o quanto a Prefeitura precisa desembolsar para completar o custo deste às empresas. Mas, será que essas são as únicas maneiras? E o investimento em estrutura (corredor, terminais, estações de transferência) que ajudaria a otimizar a rede de transporte, diminuindo o custo? A existência dessa estrutura não poderia melhorar a qualidade do serviço e aumentar a arrecadação com tarifas?

Da maneira como são tomadas as decisões, parece que a única maneira de diminuir o custo é dificultar mais a vida do passageiro do transporte coletivo. Aí, eles migram para os carros por aplicativo, para as bicicletas, para os patinetes e a Prefeitura e as empresas ficam perguntando a todos o porquê que o transporte coletivo por ônibus perde mais e mais passageiros.

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